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MODELOS/TEORIAS 

DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

As AH/SD é um fenômeno complexo de ser determinado com precisão e, por isso, diferentes são os critérios para definir e, consequentemente, identificar. Por haver uma variedade de fatores que precisam ser considerados, nenhum modelo ou critério é absoluto, definitivo, completo ou mais relevante que outro. Mesmo que haja divergências entre modelos, elas são sempre complementares.

 

Assim, o propósito desta página é apresentar introdutoriamente o Modelo de Dotação e Talento de Gagné (Françoys Gagné), o Modelo de Dotação de Munique (Kurt Heller), o Modelo Tripartido sobre Altas Habilidades (Steven Pfeiffer), o Modelo dos Três Anéis (Joseph Renzulli) e o trabalho de Leta Stetter Hollingworth e Kazimierz Dabrowski. Vamos juntas e juntos mais a fundo no cosmos das AH/SD!

 

O MODELO DE DOTAÇÃO E TALENTO DE GAGNÉ

Françoys Gagné é um dos teóricos que se ocupa de diferenciar superdotação e talento.

Para ele, a superdotação ou dotação é a posse e o uso de capacidades naturais elevadas que existem espontaneamente, ou seja, a dotação não é algo ensinado nem aprendido, é algo de ordem biológica e genética. Isto quer dizer que a dotação irá se manifestar em algum momento, mesmo que o meio social não seja favorável, pois faz parte do sujeito.

O talento, diferente da dotação, é um desempenho notável de habilidades ou conhecimentos que foram sistematicamente desenvolvidos, ou seja, o talento depende de aprendizagem e do meio familiar, escolar, social, econômico, histórico, etc, isto é, de condições favoráveis. Um sujeito talentoso, para Gagné, é quem desenvolveu suas capacidades elevadas naturais quando teve um meio social que o ajudou.

Em outras palavras, dotação e talento são conceitos que apontam mais para um princípio desenvolvimentista e processual das capacidades elevadas. As capacidades existem e requerem ser desenvolvidas pelo meio social. Embora a dotação exista independente do meio social, ela não se mostra em talentos sozinha, sem as condições sociais para isso.

A dotação é, para Gagné, um processo de maturação, enquanto o talento é um processo de aprendizagem ligada a essa maturação das capacidades. Este modelo considera que as elevadas capacidades podem ocorrer nos domínios intelectual, criativo, socioafetivo e sensório-motor. O talento é o resultado do conjunto destas áreas, de características pessoais não cognitivas e o meio social.

​Pode parecer que os conceitos de dotação e talento são separados, mas na verdade eles são totalmente interligados. Uma pessoa com dotação pode não se mostrar talentosa se ela não teve condições que a favorecesse. Com isso, o Modelo de D&T de Gagné tem importantes implicações, pois é sensível a situações em que as pessoas não tiveram suas necessidades familiares, educacionais, econômicas, etc atendidas ao considerar que o fator ambiental é fundamental na expressão da dotação e do talento. Nesta perspectiva, aprendemos a olhar para muito além do sujeito individual.

Além disso, programas de atendimento educacional especializado pautados no Modelo de D&T de Gagné buscam não apenas oferecer condições para as crianças e jovens com dotação, mas para todas e todos, uma vez que seu foco está do desenvolvimento dos talentos, seja a criança superdotada ou não.

A identificação de D&T

Para Gagné, a identificação deve fazer uso de diversos instrumentos como a nomeação por professoras(es), medidas padronizadas de testes e outras fontes de identificação. Dentre estes, Gagné salienta que as professoras e professores são excelentes fontes de informação para indicar estudantes com D&T e são centrais neste processo porque estão em contato direto com o ensino e a aprendizagem diariamente.

Gagné salienta que testes de inteligência, avaliações de criatividade, motivação, personalidade, clima escolar e familiar, bem como outras variáveis ambientais são complementares e importantes na busca por informações sobre o desenvolvimento do sujeito (lembremos que Gagné dá ênfase no desenvolvimento). No processo de identificação, além de professoras(es), devem ser levados em conta os pais, os pares da criança (colegas e amigos) e ela mesma.

Para ler e/ou baixar o modelo de Gagné, clique aqui.

 

Referências

GAGNÉ, Françoys. The DMGT: Changes Within, Beneath and Beyond. Talent Development and Excellence, v.5, n.1, pp. 5-19, 2013.

Disponívelem: https://www.researchgate.net/publication/285946236_The_DMGT_Changes_Within_Beneath_and_Beyond.

FREITAS, Márcia F.R.L.; SCHELINI, Patricia W. Escala de Identificação de Dotação e Talento: construção de instrumento e validação de conteúdo. Interação em Psicologia, v.22, n.8, 2018, p.114-122. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/326760919_Escala_de_identificacao_de_dotacao_e_talento_Construcao_de_instrumento_e_validade_de_conteudo

​O MODELO DE MUNIQUE

Este modelo foi criado por Kurt Heller e adota a perspectiva de Gagné. Defende a necessidade de incluir fatores que comumente são deixados de lado pelas medidas padronizadas de testes.

São estes fatores características individuais não cognitivas da personalidade e fatores ambientais (chamados moderadores) que influenciam o desenvolvimento do talento. Esta teoria enfatiza a relevância de preditores e de moderadores. Os preditores são sete: capacidades intelectuais, criatividade, competência social, inteligência prática, capacidades artísticas, musicalidade e capacidades psicomotoras.

Eles são os fatores do talento que se conectam com as características não cognitivas –  a motivação, as estratégias de trabalho e aprendizagem, o controle da ansiedade, as expectativas de controle e o coping (ver o que é coping) – e com as condições ambientais que são o ambiente familiar de aprendizagem, o clima familiar, a qualidade do ensino, o clima em sala de aula e as tarefas evolutivas. As interrelações entre todos preditores e moderadores levam a uma ampla multiplicidade de talentos.

A identificação de D&T no Modelo de Munique

Este modelo defende que a superdotação é um construto multifatorial de habilidades e uma identificação adequada é aquela que se baseia, portanto, em modelos multidimensionais. Isto quer dizer que a identificação é um misto de duas perspectivas: o paradigma psicométrico e o paradigma da expertise.

 

O modelo psicométrico está focado no potencial individual que pode ser identificado através de propostas diagnósticas (por exemplo, testes que avaliam quociente intelectual). O modelo de expertise está focado na personalidade (motivação e aprendizagem) e nas condições sociais e culturais do sujeito. Neste modelo, a inteligência não é enfatizada e ocupa um pequeno papel.

 

Contudo, um modelo multidimensional, como o Modelo de Munique, busca integrar ambos paradigmas e, com isso, a identificação deve levar em conta o maior número possível de fatores. As etapas de identificação são:

 

  1. Triagem da população da escola: 100% dos estudantes preenchem questionários específicos, bem como seus professores e pais. Aqui, especialistas também fazem observações dos estudantes na escola.

  2. Avaliação de preditores e moderadores: os estudantes que se mostraram potencialmente talentosos passam por aplicação de testes e questionários.

  3. Avaliação individual: os estudantes são avaliados com mais detalhes para serem encaminhados a programas de atendimento especializado.

 

Este processo de avaliação deve ser feito no Ensino Fundamental e pressupõe que hajam programas para receber os estudantes identificados.

Para ler e/ou baixar o modelo de Kurt Heller, clique aqui

[Obs. Este texto contém informações retiradas dos artigos citados nas referências. As traduções necessárias foram feitas por Patricia Neumann. Qualquer menção destas informações devem ser atribuídas aos autores dos artigos abaixo]

Referências

HELLER, Kurt A. Identification of Gifted and Talented Students. Psychology Science, v.46, n.3, p.302-323, 2004. Disponível em: http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download;jsessionid=7A28FA224B64E87175E5215A4C52EE63?doi=10.1.1.538.4180&rep=rep1&type=pdf

FREITAS, Márcia F.R.L.; SCHELINI, Patricia W. Escala de Identificação de Dotação e Talento: construção de instrumento e validação de conteúdo. Interação em Psicologia, v.22, n.8, p.114-122, 2018. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/326760919_Escala_de_identificacao_de_dotacao_e_talento_Construcao_de_instrumento_e_validade_de_conteudo

FREITAS, Márcia F.R.L.; SCHELINI, Patricia W. PÉREZ, Edgardo R. Escala de Identificação de Dotação e Talento: estrutura e consistência internas. Psico-USF, v.22, n.3, p.473-484, 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pusf/v22n3/2175-3563-pusf-22-03-473.pdf

 

​O MODELO TRIPARTIDO

Steven Pfeiffer construiu um modelo de superdotação que foi proposto pela primeira vez em 2002. Para ele, há definições educativas, sociopolíticas, filosóficas e de caráter psicométrico sobre a superdotação. Nenhuma delas é a correta, mas são formas diferentes de ver as pessoas brilhantes, especiais e únicas. Os diferentes modelos teóricos são modos de compreender e comunicar o que se quer dizer quando se fala em superdotação.

O Modelo Tripartido se pauta em experiência clínica e necessidades práticas e objetiva incluir diferentes tipos de superdotação. Busca mudar a crença popular de que superdotadas(os) são apenas pessoas com QI muito alto. O modelo leva em conta o QI, mas não somente isso.

Vejamos as três bases nas quais ele de sustenta. Para Pfeiffer, estes três âmbitos são interconectados e influenciam-se:

 - A elevada inteligência.

 - O alto rendimento.

 - O potencial para a excelência.

A AVALIAÇÃO DA (SD)

 

A Identificação e os Testes de Inteligência

Os profissionais devem ser cuidadosos quanto aos testes que utilizam. Devem sempre estar atentos a sua validade e confiabilidade. Se realmente o teste utilizado é válido para avaliar SD, pois um teste que avalia muito bem uma outra condição qualquer, pode ser inútil para avaliar SD.

A identificação da SD deve ser realizada por critérios clínicos profissionais e não apenas por aplicação de testes. Esta identificação depende muito da experiência e da habilidade do profissional que a realiza na interpretação dos instrumentos utilizados (questionários, entrevistas, etc). Além disso, as melhores avaliações são aquelas em que os profissionais possuem:

a) O acesso às investigações mais recentes e instrumentos variados de avaliação.

b) A perícia na aplicação e interpretação dos instrumentos.

c) O conhecimento e a familiaridade com a população superdotada.

Outro fator importante é que, quando se trata de um teste de inteligência, os resultados devem sempre ser interpretados conforme o contexto antecedente da criança/adolescente, seus comportamentos e a predisposição particular que a criança/adolescente tem em relação a itens do teste. É o juízo clínico do profissional que deve guiar a avaliação, não a pontuação isolada dos testes.

A identificação deve incluir múltiplos instrumentos quando se vai avaliar qualquer construto psicológico, inclusive a inteligência. Devem ser incluídos entrevistas com os pais, com professoras(es) e outras pessoas que participem do quotidiano da criança/adolescente. A avaliação precisa identificar não somente a SD em geral, mas qual seu perfil. Ou seja, qual ou quais áreas o talento se mostra.

Feita a avaliação inicial e constatada a SD, é importante que se faça um acompanhamento contínuo do desenvolvimento dos talentos. Isto pode ser feito através de escalas especialmente construídas para este fim. Uma reavaliação deve ser feita a cada ano para monitorar o desenvolvimento. O objetivo é o melhor aproveitamento dos talentos em programas conforme as áreas de destaque e interesses. Por exemplo, programas para superdotadas(os) nos esportes, nas artes, na ciência, etc.  (Obs. No Brasil, não temos estes tipos de programas instituídos ainda).

Em suma, não há uma única maneira de avaliar a SD. A superdotação não é uma doença que possa ser precisamente detectada. O que chamamos ‘superdotação’ é uma construção social. Por isso, não existe um algoritmo científico e estatístico que nos dê a certeza de que a decisão na avaliação foi totalmente correta e que os acertos foram maximizados e os equívocos minimizados. Profissionais e famílias gostariam que houvesse uma medida exata, mas ela não existe. Até mesmo os testes de inteligência, os quais oferecem uma “medida”, variam de modo contínuo. Além disso, quando aplicados diferentes testes ou, ainda, um teste amplo composto de vários subtestes, os resultados podem ser incongruentes, isto é, as pontuações de diferentes funções psicológicas podem ser discrepantes. Determinada função pode ter uma elevada pontuação e outra função uma pontuação bastante baixa.

 

Então, o que fazer, nestes casos? Considerar a pontuação mais alta? Fazer uma média das pontuações? Cada caso é um caso. Pesquisadores em psicometria como David Lohman defendem que as funções psicológicas com mais alta pontuação num teste de inteligência nem sempre refletem a ‘verdadeira’ capacidade intelectual daquela pessoa.    

A Identificação através do Alto Rendimento

Enxergar a SD pelo alto rendimento não descarta a avaliação da inteligência. Contudo, quando de parte do alto rendimento, os resultados de testes de inteligência não são essenciais na identificação. Dentro desta perspectiva, o indicador mais forte é o alto rendimento acadêmico em sala de aula. São os estudantes de destaque.

Neste caso, não se usam testes de inteligência para identificar a SD, mas medidas de rendimento acadêmico. Isto porque os testes de inteligência nada dizem sobre o rendimento real. São mais importantes fatores não cognitivos como criatividade, motivação, persistência e paixão acadêmica. Eles são variáveis que devem ser medidas, pois influenciam diretamente a aprendizagem e o desenvolvimento dos talentos.

Quando se pensa em programas para crianças/adolescentes com SD, é preciso considerar se eles serão construídos com base na alta inteligência ou no alto rendimento. Ambos são diferentes, mas não são excludentes entre si. Em verdade, são complementares.

[Insiro um comentário. Nesta perspectiva do alto rendimento, um caminho bastante útil é trabalhar com as inteligências múltiplas. Identificá-las através de instrumentos adequados e preparar programas de atendimento].

A Identificação através do Alto Potencial para a Excelência

Muitas crianças/adolescentes são extraordinárias, mas não apresentam alto desempenho em testes de inteligência nem mostram alto rendimento na sala de aula. Para elas, é preciso um outro caminho de identificação, o qual enxergue o seu potencial para a excelência.

Há crianças/adolescentes que não receberam oportunidades ou estimulação suficiente para desenvolver sua inteligência e talentos acadêmicos. Algumas crianças/adolescentes pobres, que têm família na qual atividades intelectuais/acadêmicas não são estimuladas, que crescem em comunidades rurais afastadas ou em condições de superlotação estão em nítida desvantagem para desenvolver suas habilidades.

Nesta perspectiva, a criança/adolescente é vista como “quase ou potencialmente superdotada(o)”. Para que os talentos se mostrem, é preciso que haja ajuda psicopedagógica adequada. Com tempo, meio social adequado e altamente estimulante, com a tutoria de professoras(es) e um programa adequado, tais estudantes podem desenvolver aquilo que não foi antes desenvolvido. A educação pautada no potencial para a excelência consiste em um plano de estudos muito motivador e enriquecido.

[Insiro um comentário. Um dos pontos fortes deste modelo é sua preocupação com os valores culturais de cada povo na determinação da SD. Assim sendo, no Brasil, é fundamental as questões de gênero, raciais e sociais a serem incluídas, visto ser um país permeado pela desigualdade entre mulheres e homens, brancos e negros e pobres e ricos. Por exemplo, não podemos esperar que um menino branco de classe média e uma menina negra pobre tenham as mesmas oportunidades na vida].

Os Três Grupos de Estudantes SD

O Modelo Tripartido, então, parte de três categorias de identificação. Mas quem são estas crianças/adolescentes em cada categoria? Elas pertencem a três grupos.

O grupo da elevada inteligência

São estudantes que apresentam QI superior comparadas(os) aquelas(es) da sua mesma idade. Aqui, há os que são extraordinariamente superdotados sem possuir QI muito superior (130 para cima) e há, também, aqueles com QI muito superior e que não se destacam academicamente, mas em outras áreas.

O grupo do alto rendimento

São estudantes academicamente precoces, rendem muito bem nas aulas, desfrutam da aprendizagem e dos desafios acadêmicos, têm persistência, possuem alta tolerância à frustração e motivação para desafios. Quando avaliadas(os) em sua inteligência, podem obter resultados acima da média, mas nem sempre. Gostam da escola e se entusiasmam com a aprendizagem. Professoras(es) se encantam com estes estudantes devido a seu rendimento.

O grupo do alto potencial para a excelência

São os estudantes mais difíceis de identificar. São reconhecidos por professoras(es) e outras pessoas como brilhantes ou rápidos e curiosos acerca do mundo. Não apresentam bom desempenho em testes de inteligência nem na sala de aula. Contudo, existe algo nestes estudantes que transmite uma alta habilidade latente, ainda não desenvolvida.

Comumente, professoras(es) dizem que são estudantes que aprendem conceitos difíceis com facilidade, aprendem novas informações rapidamente, terminam atividades em sala de aula sem precisar de ajuda, compreendem informações complexas, se mostram imaginativas(os) e esforçam-se para render.

O desafio em identificar este perfil de estudante é que a identificação é especulativa pautada em observações, ensaios e informação contextual. É aquele ou aquela estudante que claramente se percebe que se tivesse tido oportunidades familiares, socioculturais, econômicas, etc, seria academicamente extraordinária(o).

Por fim, nas diferentes áreas e profissões é preciso diferentes competências. Há trabalhos e atividades que requerem, por exemplo, raciocínio abstrato; outras que requerem velocidade de processamento e memória de trabalho e assim por diante. Isto quer dizer que a SD não é um padrão, de modo algum. O foco não pode estar na busca por padronização das funções psicológicas. O foco deve estar excelência, que é os talentos plenamente realizados e o que for preciso para isso conforme a singularidade de cada um.

O Modelo Tripartido defende que jamais pode haver um QI que separa os superdotados dos não superdotados. A SD sempre deve ser avaliada pelo juízo reflexivo, justo, equitativo e prudente de profissionais que entendam não só de SD, mas também da cultura na qual estão inseridos.

 

[Obs. Este texto contém informações retiradas do artigo citado na referência. As traduções necessárias foram feitas por Patricia Neumann. Qualquer menção destas informações devem ser atribuídas ao autor do artigo abaixo]

Referência

PFEIFFER, Steven I. El Modelo Tripartito sobre la alta capacidad y las mejores prácticas en la evaluación de los más capaces. Revista de Educación, ano 2015, n.368, p.66-95, 2015. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/ejemplar/393122

O MODELO DOS TRÊS ANÉIS

O modelo dos três anéis foi pensado por Joseph Renzulli para um programa de intervenção dirigido a desenvolver tanto o potencial acadêmico quanto o criativo-produtivo. Ele se baseia em três grandes conjuntos de características que são:

 

1) Habilidades acima da média (que não são, necessariamente, medidas através de testes de inteligência).

2) Compromisso com a tarefa

3) Criatividade (e sua direta implicação nas distintas áreas de desempenho humano).

As habilidades acima da média se referem tanto a aptidões mais gerais como, por exemplo, raciocínio verbal, numérico ou espacial ou gestão da memória, como áreas específicas de desempenho humano como química, ballet, composição musical ou desenho. O anel das habilidades acima da média é o mais estável de todos durante o tempo. Isso significa que o rendimento de um estudante, dentro dos parâmetros deste anel, é relativamente invariável durante o tempo. Este anel é também mais relacionado com os traços cognitivos tradicionalmente avaliados por testes. Importante salientar que não há uma clara relação entre habilidade acadêmica intelectual e sucesso profissional, ou seja, o sucesso na vida real depende também de outros fatores não cognitivos que envolvem traços pessoais e volitivos.

O compromisso com a tarefa é um conjunto de traços não intelectivos evidenciados consistentemente em pessoas especialmente criativas e produtivas. Exemplos de características destas pessoas são a perseverança, a determinação, a força de vontade e a energia positiva. Pode-se resumir este conjunto de características como uma refinada e concentrada motivação, isto é, uma energia que se mantém e direciona-se para a resolução de um problema ou domínio. Um dos principais fatores entre as pessoas que têm contribuído de maneira significativa a seus respectivos âmbitos de desempenho tem sido sua capacidade para se dedicar plenamente a um problema durante um longo período de tempo e perseverar, inclusive, frente às dificuldades que surgem e que acabam por coibir os demais. 

 

A criatividade é um conjunto de características que engloba a curiosidade, a originalidade, a generosidade e/ou a tendência para questionar as tradições ou convenções sociais.  Dentro do âmbito do estudo das capacidades humanas, o nível de rendimento valorizado através de tradicionais testes psicométricos tende a ser constante ao decorrer do tempo. O compromisso com a tarefa e a criatividade, contudo, nem sempre estão presentes. Eles podem aparecer e desaparecer em função do contexto e das circunstâncias que, por sua vez, são o resultado das experiências, inclusive educativas, que fomentam o desenvolvimento destes traços. O compromisso com a tarefa e a criatividade, diferentemente dos traços pertencentes ao anel de habilidades acima da média, são desenvolvidos a partir de experiências que os facilitem. Em muitos casos, a criatividade e o compromisso com a tarefa se retroalimentam.

O modelo dos três anéis se embasa na interação dos três conjuntos de traços que, por sua vez, criam condições para a manifestação daquilo que Renzulli denomina comportamentos dotados.  Este modelo, portanto, não concebe a alta habilidade intelectual como uma característica absoluta e estável, isto é, que se tenha ou que se não tenha. A elevada capacidade intelectual é concebida mais como um conjunto de condutas desenvolvidas dentro de um marco de resolução de problemas. Renzulli considera que a função mais importante da educação é propiciar oportunidades e recursos para que as crianças e jovens sejam capazes de gerar ideias criativas e desenvolver suas habilidades necessárias para persistir no desenvolvimento dessas ideias.

A Identificação: o talent pool

O talent pool (grupo de estudantes com talento) é um elemento chave dentro do sistema de identificação. Trata-se de identificar estudantes não apenas através de tradicionais testes de inteligência. O talent pool engloba é um sistema que identifica estudantes que pontuam alto em testes de inteligência, aqueles que mostram seu potencial de uma forma distinta e aqueles que possuem um alto potencial acadêmico, mas que, atualmente, se mostram abaixo de sua capacidade. Trata-se de um sistema de identificação multidimensional, um tipo de identificação e avaliação que vai muito mais além que a aplicação de testes de inteligência e medidas cognitivas. O talent pool é um sistema que utiliza diferentes critérios de identificação e avaliação. Por exemplo, rendimento acadêmico, numeração por testes de inteligência, testes de aptidão não-verbal, nomeação por professores através de questionários, nomeação por pais, por colegas, produções dos estudantes e estudos de caso, quando necessário. Este processo é realizado por uma equipe multidisciplinar dentro da escola. 

Para ler e/ou baixar o modelo de Joseph Renzulli, clique aqui

Para ler e/ou baixar o modelo de Talent Pool, clique aqui

 

[Obs. Este texto contém informações retiradas do artigo citado na referência. As traduções necessárias foram feitas por Patricia Neumann. Qualquer menção destas informações devem ser atribuídas ao autor do artigo abaixo]

Referência

RENZULLI, Joseph. Un sistema multicriterial para la identificación del alumnado de alto rendimiento y de alta capacidad creativo-productiva. Revista de Educación, ano 2015, n.368, p.96-117, 2015. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/ejemplar/393122

QUESTÕES SOCIOEMOCIONAIS DAS AH/SD

LETA STETTER HOLLINGWORTH 

Leta Hollingworth (1886-1939) foi pioneira na pesquisa e no atendimento a crianças e adolescentes com AH/SD. Dedicou-se, principalmente, às questões socioemocionais em relação com a inteligência intelectual e às questões de gênero. Foi fundadora das primeiras salas de recursos de AH/SD. Ela não trabalhou com adultas(os).

 

Leta se ocupou com os problemas de ajustamento únicos que crianças superdotadas experimentavam. Em seus escritos, podemos encontrar insights sobre a natureza destes problemas, seu impacto em diferentes níveis de superdotação e soluções que podem ser implementadas até hoje.

 

Quais são os problemas de ajustamento específicos nas crianças superdotadas?

 

Leta era fascinada pela mente das crianças superdotadas e procurava compreender cada experiência pessoal de cada uma.  Ela considerava que a vida individual era irredutível a médias estatísticas. Então, desenvolveu o método de estudo de caso para pesquisar crianças superdotadas e sistematizar suas observações. Ela desenvolveu também o método de pesquisa de registros fotográficos e análise dessas imagens. Para ela, para ajudar as crianças superdotadas, era preciso encontrar meios para compreendê-las.

 

Aspectos Especiais da Vida das Crianças Superdotadas 

 

Para Leta, o motivo pelo qual a sociedade ignora as crianças superdotadas é o de que elas não são socialmente problemáticas. A sociedade estuda quem é socialmente problemático e a escola se dedica a resolver problemas em torno dessas pessoas.  Na época de Leta, muitos pesquisadores encontraram que as crianças superdotadas eram superiores à média em estabilidade e controle emocionais, mas, para Leta, essa chamada estabilidade se referia, na verdade, ao tédio. Ela encontrou características de impaciência, comprometimento com a tarefa e tagarelice, o que ela associou a fertilidade de ideias e necessidade de comunicá-las.

 

Leta observou que a precocidade, inevitavelmente, complica o problema do ajustamento social. Uma criança de 8 anos com uma mentalidade de 12 ou 14 enfrenta dificuldades. Os testes modernos de inteligência perderam o conceito de idade mental e, com isso, fechou os olhos para este problema de incompatibilidade entre idade cronológica e idade mental. Por isso, Leta defendia a necessidade de uma educação emocional para as crianças superdotadas para ajudá-las a gerenciar os problemas especiais com os quais elas se deparavam desde os primeiros anos de vida. Ela reuniu 11 questões específicas das crianças superdotadas: 

 

Encontrar motivação para o trabalho escolar (isto porque,  geralmente,  as tarefas escolares não são interessantes nem desafiadoras o suficiente).

 

Desenvolver ajustamento social com os colegas da escola.

 

Ser capaz de se relacionar com outras crianças.

 

Não se tornar uma criança isolada.

 

Desenvolver habilidades de liderança.

Não se tornar negativo em relação à autoridade.

 

Lidar alegremente com as tolices das outras pessoas.

 

Evitar a formação de hábitos de extrema sagacidade/astúcia.

 

Adaptar-se a regras e expectativas quando forem importantes para o seu desenvolvimento pessoal

 

Compreender a origens e destinos desde a mais jovem idade.

 

Aprender a lidar com os problemas especiais de ser uma criança superdotada.

 

Vejamos o que Leta diz acerca de algumas dessas questões:

 

 

A questão do ajustamento com os colegas de escola

 

A prática da aceleração escolar para as crianças superdotadas de QI muito superior pode criar uma situação social precária na sala de aula.  Com os mais velhos, as crianças fisicamente mais desenvolvidas podem invejar aquela que é mais nova e está frequentando o mesmo espaço que elas.  As crianças superdotadas ficam aterrorizados nessas situações e não têm ideia de quais estratégias utilizar para se defender e escapar do bullying de quem elas não podem competir em tamanho nem em força. Por isso, a aceleração é uma medida que requer ponderação de vários fatores.

 

A questão da incompatibilidade entre pares

 

Uma dificuldade que crianças superdotadas enfrentam com relação às amizades é a infrequência com que encontram pessoas intelectualmente compatíveis a elas.  Quanto mais inteligente com relação à sua faixa etária, menos frequentemente se encontram companhias genuinamente compatíveis.  Muitas crianças altamente inteligentes e talentosas desenvolvem  hábitos de solidão. Isso não porque elas não queiram amigos, mas porque seus esforços para se relacionar com as outras são rapidamente fracassados.  Outras crianças não compartilham de seus interesses, vocabulário ou o mesmo desejo de organizar suas atividades.  As crianças superdotadas, quando procuram pares mais velhos, buscam encontrar crianças que tenham interesses compatíveis com sua idade mental, que tenham um nível mais sofisticado de conhecimento, que gostem de gastar o tempo com leituras, com diversos hobbies e coleções.  Uma questão importante nisso é que as meninas superdotadas, geralmente, não se interessam pelas brincadeiras tradicionais de meninas como bonecas ou cozinha.  Elas tendem a preferir brincadeiras e jogos mais complexos e altamente competitivos. 

 

A questão do isolamento social

 

Leta era profundamente preocupada com o isolamento psicológico de crianças altamente superdotadas.  O elevado quociente intelectual faz com que se aumente a consciência e também o risco de alienação social. Na época em que Leta realizou suas pesquisas sobre este assunto,  anos 1920/1930,  o problema do isolamento aparentemente diminuía na vida adulta.  Hoje, contudo, é preciso investigar esta questão, pois muitas(os) adultas(os) com AH/SD  sofrem com problemas de isolamento social.

 

A questão da liderança

 

A elevada inteligência é um requisito para a liderança.  Contudo, existem outros traços que são necessários como integridade, independência, originalidade, criatividade, imaginação,  motivação,  coragem  e estabilidade emocional.  Para Leta, uma pessoa não poderia ser altamente inteligente sem amor e beleza. Um especial problema crianças superdotadas encontram com relação a liderança é o de que ela deve ser mais inteligente, porém não muito mais inteligente que seus colegas. Ou seja, a sociedade exige que as crianças sejam inteligentes, mas não que se destaquem e mostrem-se mais talentosas que a maioria.

 

A questão de contestar exageradamente a autoridade 

 

O negativismo em relação à autoridade tende a se desenvolver quando a criança superdotada percebe que aquela autoridade é ilógica, irracional, comete erros e injustiças.  As crianças superdotadas podem se rebelar contra todas as figuras de autoridade porque elas já vivenciaram experiências negativas nesta relação. Se elas foram maltratadas na sua juventude, algumas delas  se tornam incapazes de se relacionar adequadamente com pessoas que ocupam posições de autoridade com as quais elas necessitam ter uma relação de subordinação.  O negativismo e o cinismo podem seriamente atrapalhar a realização de objetivos na vida adulta.

 

A questão de aprender a lidar com tolices

 

Uma lição que muitas pessoas superdotadas nunca aprendem ao decorrer de suas vidas é que seres humanos, geralmente, são muito diferentes delas na forma de pensar, de agir, em suas intenções e interesses. Esta é uma das mais difíceis e dolorosas lições que cada criança superdotada deve aprender. Crianças altamente inteligentes devem aprender a lidar com tolices alegremente e com bom humor. Devem evitar lidar com isso de modo irônico, raivosamente, desesperadamente ou em prantos. Lidar com as tolices de forma alegre e com bom humor significa que o desenvolvimento emocional se deu com sucesso. Ensinar as crianças tolerância e como lidar com as aparentes e reais tolices dos outros com paciência e amor é o principal objetivo de uma educação emocional.

 

A questão de evitar hábitos de extrema sagacidade/astúcia

 

Uma parte básica da educação emocional é ensinar as crianças com AH/SD a diferenciar astúcia de extrema autopromoção. A extrema autopromoção se refere há um exagero na demonstração da inteligência em situações sociais nas quais aquele nível é contraproducente.  Nesses casos,  a pessoa superdotada tende a ser vista como aquela que é sabe-tudo,  arrogante e insolente. Isto é improdutivo para as relações sociais. A sagacidade é uma ferramenta de autoproteção para as pessoas superdotadas e, muitas vezes, precisa ser utilizada, mas é preciso que haja o desenvolvimento da sensibilidade social, ou seja, a honestidade em relação a quem se é requer uma avaliação do contexto. Isto pode ser dificultoso devido ao comum traço de inconformismo com as situações.

 

A questão da inconformidade 

 

As crianças superdotadas têm dificuldade em se manter em silêncio quando elas têm uma ideia que querem expressar. Sua tendência é falar e defender o que diz para os outros.  Não é fácil para elas segurar sua língua, escutar quieta e respeitosamente os outros,  falar de acordo com algumas ordens e procedimentos e ocultar seu desapontamento com relação as falhas daquilo que ouvem.  Existe, nas crianças superdotadas, uma tendência mais forte de argumentar sobre o que é exigindo delas comparado as demais crianças da mesma idade. Uma das razões de muitas crianças superdotadas serem tão argumentativas é sua necessidade de manter uma performance mental exata e sua busca por fatos que sejam precisos, indubitáveis. Por isso, é bem mais difícil convencê-las.

 

A questão de compreender origens e destinos

 

Uma das principais características de pessoas altamente inteligentes é o seu precoce interesse em origens e destinos. Leta observou que quanto mais elevado é o quociente intelectual, mais cedo de desenvolve a necessidade de explicações sobre questões existenciais e espirituais. Essa necessidade pode colocar em xeque crenças e valores familiares e escolares. 

 

Uma questão especial: as meninas com AH/SD

 

Leta observou que meninas superdotadas tendem a apresentar menos interesse em brincadeiras tradicionalmente legitimadas para meninas, bem como elas mostram uma preferência por brincadeiras e brinquedos que são comumente dados aos meninos.  As meninas com AH/SD  tendem a ser mais competitivas e agressivas que aquilo que supostamente a sociedade espera delas. Sendo assim, elas tendem a demonstrar nos relacionamentos atributos que são considerados masculinos como busca por independência e realização, uma vez que o papel feminino é altamente restritivo para muitas delas. Na época de Leta, anos 1930,  isso era um problema muito relevante porque a preferência por atividades que fossem mais desafiadoras ia de encontro à educação ofertada às meninas, da qual era inescapável. Hoje, a questão de gênero continua e necessita ser discutida, pois muitas meninas ainda são tratadas como há cem anos.

 

[Obs. Este texto contém trechos traduzidos do artigo citado na referência. As traduções foram feitas por Patricia Neumann. Qualquer menção destas informações devem ser atribuídas à autora do artigo abaixo]

 

Referência  

SILVERMANN, Linda. Social and emotional education of the gifted: the discoveries of Leta Hollingworth. Roeper Review, v.12, n.3, p.171-186, 1990. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/02783199009553265

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TEORIA DA DESINTEGRAÇÃO POSITIVA E AH/SD 

KAZIMIERZ DABROWSKI

A Teoria da Desintegração Positiva (TDP) de Dabrowski tem sido foco de um grande número de projetos de pesquisa no campo das AH/SD nas últimas duas décadas. a maioria das pesquisas tem se focado na sobre-excitabilidade (TILLIER, 2009). Vide aba Sobre-excitabilidades.

Kazimierz Dabrowski, psicólogo e psiquiatra polonês, fundou a TDP, teoria que defende que o desenvolvimento é uma função do nível de organização. O mais significativo aspecto do desenvolvimento humano é o desenvolvimento emocional, mas ele tem um aspecto diferente do neuromuscular ou do cognitivo. O nível de funcionamento emocional não é produzido automaticamente, mas evolui como uma função de outras condições.

 

Um alto nível de funcionamento cognitivo não garante um alto nível de funcionamento emocional, mas o contrário é verdadeiro, ou seja, um alto nível de desenvolvimento emocional garante um alto nível de desenvolvimento intelectual. O conceito de desenvolvimento da personalidade multinível é o ponto de partida para a análise do desenvolvimento e do comportamento. Em geral, os mais altos níveis de desenvolvimento são caracterizados por processos mentais e comportamentais que são mais conscientes e voluntários enquanto níveis mais baixos são caracterizados por processos os quais são mais mecânicos e automáticos. Dabrowski postulou cinco níveis de desenvolvimento da personalidade e para passar de um nível para o outro, é preciso que haja uma desintegração do nível anterior, o que ele chamou desintegração positiva.

A desintegração positiva é o processo pelo qual ocorre uma transição de um nível mais baixo para outro mais alto de funcionamento da personalidade. Ela consiste no enfraquecimento e na dissolução de  uma estrutura mental de nível mais baixo e de suas funções e uma gradual geração e crescimento de um nível mais alto das funções mentais, o que culmina em uma personalidade integrada em um nível mais alto. Este processo de desenvolvimento de um nível mais baixo para o mais alto do funcionamento mental é caracterizado por conflitos, instabilidade e desorganização parcial ou completa do comportamento, seguido por uma gradual emergência e organização de uma estrutura mental nova a qual é a mais elevada que a anterior.

A importância da TDP nas AH/SD está em suas contribuições para a compreensão do desenvolvimento humano, de situações que podem acontecer com as pessoas desde sua infância até a  velhice. Diversos eventos que acontecem com as pessoas com AH/SD são comum e erroneamente interpretados devido ao desconhecimento sobre seu desenvolvimento emocional. Um exemplo disso é a presença da ansiedade que geralmente é vista como algo negativo, mas que, na maioria das vezes, trata-se do próprio processo de desenvolvimento e que requer uma atenção e um atendimento adequado pela família e pela escola, quando se trata de crianças e adolescentes. A ansiedade é uma das expressões principais do desenvolvimento da personalidade e ela indica que a pessoa está em um processo interno de desintegração de nível. 

Estas desintegrações são movidas por fatores internos como a sobre-excitabilidade emocional, que é um dos principais fatores neste processo. As desintegrações geram diversas manifestações e expressões comportamentais e emocionais que são facilmente confundidas com transtornos psiquiátricos. Muitas pessoas com AH/SD são vistas pelos outros como com alguma patologia, sendo que pode não ser isso, mas sim seu próprio processo de desenvolvimento, o qual é permeado por crises e conflitos. Crise, para Dabrowski, é sinônimo de desenvolvimento. As próprias pessoas com AH/SD podem pensar que têm alguma patologia, que estão ficando 'loucas', pois os processos de desintegração fazem com que haja uma diferenciação daquilo que se considera 'normal'.

No que tange às pessoas com AH/SD, Dabrowski observou que elas geralmente apresentam sobre-excitabilidade emocional, o tipo de sobre-excitabilidade que justamente potencializa as demais e funciona como um propulsor do desenvolvimento da personalidade. Isto quer dizer que esta perspectiva nos ajuda a compreender características comuns das pessoas com AH/SD como sua intensidade e profundidade intelectual, sensorial, imaginativa e/ou psicomotora, seus processos que envolvem crises e conflitos e como se pode favorecer o desenvolvimento delas desde que nascem.

Para conhecer mais sobre esta teoria e suas contribuições, vide aba Dabrowski e AH/SD.

 

Referência

Fonte das imagens: www.google.com

 

TILLIER, Wiliam. Dabrowski Without the Theory of Positive Disintegration Just Isn’t Dabrowski. Roeper Review, v.31, pp. 123–126, 2009. Disponível em:

https://www.researchgate.net/publication/247528424_Dabrowski_Without_the_Theory_of_Positive_Disintegration_Just_Isn't_Dabrowski

Sugestão de leitura inicial: OLIVEIRA, Juliana C.; BARBOSA, Altemir J.G.; ALENCAR, Eunice M.L.S. Contribuições da Teoria da Desintegração Positiva para a Área de Superdotação. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v.33, pp. 1-9, 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722017000100302

 

O MODELO ESTRELA MARINHA DE

ABRAHAM TANNENBAUM

Tannenbaum expandiu a definição de alta habilidade além dos limites da habilidade intelectual ou aptidão acadêmica. Ele definiu alta habilidade como a habilidade de desenvolver ou produzir um tipo de trabalho que realce o estado moral, físico, emocional, social, intelectual ou estético da vida humana. Levando em consideração que nem todas as crianças e adolescentes talentosos atingem seu potencial máximo, ele acredita que eles só devem ser considerados potencialmente talentosos nessa fase do desenvolvimento. Porque o verdadeiro talento seria demonstrado mais tarde, na idade adulta, como pessoas com níveis de desempenho excepcionais, modelos positivos para a sociedade ou produtores de ideias que transformam as sociedades (BLUMEN, 2020).

Tannenbaum acredita que as crianças superdotadas devem ser expostas à mais ampla variedade de informações e experiências possíveis durante a infância e adolescência, ao longo de seu desenvolvimento, a fim de maximizar as oportunidades de atingir seu potencial. Essa ideia supôs mudanças radicais na forma como as crianças e adolescentes com altas capacidades deveriam ser educados. Essa noção de alta habilidade era realista e libertadora, sugerindo a necessidade de fornecer oportunidades de enriquecimento para todas as crianças e avaliar quais crianças responderiam favoravelmente. O modelo Tannenbaum Sea Star (estrela marinha), ou estrela de cinco pontas, também incluía traços não intelectuais, como motivação, comprometimento, crença em si mesmo, bem-estar mental e autoconfiança. Ele teorizou que todas as variáveis ​​internas e externas em sua definição deveriam estar presentes, embora em graus diferentes, para que a criança fosse considerada potencialmente superdotada (Ibid, 2020). 

 

Tannenbaum também reconheceu o papel da sorte no desenvolvimento dos talentos das crianças superdotadas, até que atinjam seu potencial pleno. Ele considerou fatores como entrevistar ou trabalhar com um mentor de mudança de vida, ou encontrar desafios significativos na infância ou adolescência, como altamente significativos, além de ser inteligente, trabalhador e talentoso (Ibid, 2020).

Referência:

 

BLUMEN, Sheyla. In Memoriam. Revista de Psicologia, v.33, n.1, 2015, pp. 1-4. Disponível em:  http://www.scielo.org.pe/pdf/psico/v33n1/a09v33n1.pdf Acesso: agosto, 2020.

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