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TIPOS E GRUPOS

DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

As pessoas com AH/SD são profundamente diferentes entre si e, por isso, a organização em grupos de semelhanças nos ajuda a identificá-las e atendê-las. Nesta página, apresento as grandes áreas de interesse e seus tipos conforme a área.

 

Dentro da perspectiva de trabalho de Joseph Renzulli, temos dois tipos de AH/SD. O tipo acadêmico-intelectual e o tipo produtivo-criativo. Junto aos tipos, temos as grandes áreas de interesse e, consequentemente, talentos:

Área das artes (AH/SD em artes)

Área psicomotora (AH/SD em esportes)

Área de liderança (AH/SD em liderança)

Área acadêmica (tipo acadêmico/intelectual - voltado às ciências em geral)

Área criativa (tipo produtivo-criativo)

 

Há informações fundamentais que precisamos saber sobre os tipos:

1) Há pessoas com AH/SD em apenas uma dessas áreas.

2) Há pessoas com AH/SD em duas, três ou mais dessas áreas.

3) Ter AH/SD em mais de uma dessas áreas é comum na população com AH/SD.

4) Geralmente, quando há mais de uma área, existe uma delas que se expressa com mais força, mas também existem pessoas em que as áreas estão compatíveis em sua expressão.

Vejamos um pouco mais de cada área:

ÁREA ARTÍSTICA

As pessoas com AH/SD nesta área são voltadas a uma imensa diversidade de linguagens e à comunicação. Seus talentos podem se mostrar na música, na pintura, na escultura, na dança, na arquitetura, no cinema, no teatro, no desenho, na escrita, etc. Cada uma dessas áreas têm uma infinidade de possibilidades. Fundamentalmente, estas pessoas se realizam quando expressam suas emoções interconectadas com suas ideias. A arte é a forma como elas apresentam isso para os outros. A percepção das pessoas com AH/SD nas artes é extremamente aguçada e elas são capazes de captar aquilo que passa despercebido pelos demais. Isto graças a sua comum elevada sobre-excitabilidade emocional e imaginativa.

ÁREA PSICOMOTORA

As pessoas com AH/SD nesta área são voltadas a uma imensa diversidade de expressão de movimentos corporais. São pessoas que se destacam em sua coordenação global, fina e/ou óculo-manual; lateralidade, esquema corporal e orientação espaço-temporal. São características que são necessárias a muitos tipos de movimentos corporais, mas principalmente os movimentos nos esportes. Então, por isso, o tipo motor é associado aos esportes que necessitam do movimento do corpo. Isto porque há esportes que não exigem alto grau de movimento corporal como o xadrez. Embora seja um esporte, é um talento que entra na área intelectual das AH/SD por exigir mais do intelecto que do movimento do corpo.

 

ÁREA DE LIDERANÇA

Nesta área estão as pessoas que são muito boas em lidar com outras pessoas. Pode-se dizer que há diferentes tipos de liderança, então que tipo de líder é esta ou este, aqui? Basicamente, são as pessoas que têm facilidade em gerenciar as relações interpessoais, resolver problemas e conflitos entre pessoas com soluções inovadoras e criativas. São pessoas inspiradoras, que trabalham para o bem-comum, que são motivadas por si mesmas, que são abertas a aprender e a ensinar de modo compatível a cada grupo e situação, enfim, são pessoas apaixonadas por estar em contato com outras e fazem do seu modo de vida um exemplo para os demais. Para isso, são pessoas que desenvolvem algumas características muito importantes. Elas têm elevada autoestima, são capazes de se recuperar rápido das adversidades, gerenciam inteligentemente (emocional e intelectualmente) as frustrações, gerenciam sua energia e a não a desperdiçam, são predominantemente otimistas, colocam metas para si e as cumprem de modo eficiente e buscam por resultados que transcendem as coisas mais básicas da vida. Além disso, a liderança pode se voltar a qualquer área: na política, na educação, na ciência, na arte...

TIPO PRODUTIVO-CRIATIVO

Pode soar óbvio, mas as pessoas com AH/SD deste tipo são curiosas e criadoras incansáveis. Elas criam o tempo todo! Estão a todo momento sentindo, interpretando a realidade e produzindo ideias. Existem características mais específicas deste tipo, mas ele comumente se associa com algum outro tipo, pois é em alguma grande área que o tipo produtivo-criativo se expressa. Ele não é um tipo isolado e ela tende a ser contextual e específica de uma área. O que pode acontecer, contudo, é que a pessoa com AH/SD do tipo produtivo-criativo não receba oportunidades de transformar seu potencial em talento e, então, ela guarda para si suas ideias e não as concretiza, não as executa. A falta de oportunidades e de orientações educacionais adequadas para este tipo leva, por exemplo, a pessoas que têm sempre muitas ideias e interesses, mas não conseguem ter foco e realiza-los até o final. Mas se receberem uma educação que os ajude a se organizar e a orientar seu potencial sem cortar sua criatividade, podem se tornar grandes inovadoras em sua área de maior interesse. As pessoas com AH/SD do tipo produtivo-criativo podem se conjugar com qualquer outro tipo.

TIPO ACADÊMICO-INTELECTUAL

As pessoas com AH/SD nesta área se voltam principalmente para duas áreas de interesse: a linguística e a lógico-matemática. Dentro destas duas áreas, as possibilidades são muito diversificadas. São chamadas de áreas acadêmicas porque estão fortemente vinculadas à educação formal e a todas as ciências: humanas, sociais, sociais aplicadas, naturais, exatas, etc. Então, estas pessoas com AH/SD na área acadêmica/intelectual são, comumente, as pessoas da ciência. Nem sempre serão cientistas vinculadas a uma instituição como uma universidade, mas trazem sempre consigo um ‘espírito de cientista’. São investigadoras constantes e incessantes. O mundo é sempre um universo a ser conhecido, desconstruído e reconstruído.

  

Vemos, portanto, que as pessoas com AH/SD estão em todas as grandes áreas da vida humana. Estão nas artes, nos esportes, nas lideranças e nas ciências. Mas e o tipo produtivo-criativo? Bem, ele se ligará a alguma dessas áreas para se mostrar. Agora, imagine as possíveis combinações destes tipos... É lindo, não?

GRUPOS DE PESSOAS COM AH/SD

 

Os estudos de Ourofino e Fleith:

Duas colegas brasileiras, Vanessa Ourofino e Denise Fleith (vide referências), fizeram uma classificação bastante esclarecedora quanto às pessoas com AH/SD. Elas partiram do meio escolar para nos ajudar a enxergar estas crianças e adolescentes. Elas dividiram as crianças e adolescentes, no meio escolar, em dois grupos.

 

GRUPO 1

Neste grupo estão as crianças e adolescentes com AH/SD bem-sucedidas e autodidatas.

 

GRUPO 2

Neste grupo estão as crianças e adolescentes divergentes, as desistentes, as de potencial oculto e as de múltipla condição (as autoras chamam de dupla-excepcionalidade – sobre isso, vide aba múltipla condição). Vejamos mais detalhes destes grupos.

GRUPO 1

São as mais visíveis na escola. Isto porque elas simplesmente não dão conflito com a escola ou quase nunca dão algum conflito. Elas se engajam, têm autoconceito positivo, são atentas para as instruções de pais e professoras(es), aprendem com facilidade, tiram notas altas, são independentes e seguras em suas metas, criam novas oportunidades para si, são respeitadas pelos adultos e pelos pares e comumente assume lugares de liderança.

Comentário: Acrescento que este grupo comumente está no grupo de QI elevado e/ou no grupo de alto rendimento proposto por Steven Pfeiffer (vide aba Modelos/teorias nas AH/SD).

GRUPO 2

São as crianças e adolescentes mais invisíveis e as que geralmente ficam de lado sem nunca ou quase nunca serem atendidas pelo sistema escolar. Vejamos cada perfil deste grupo.

As divergentes

São as crianças e adolescentes altamente criativas e questionadoras, com humor sarcástico, inconformadas com a escola, que comumente têm conflitos nas interações sociais, com autoconceito negativo e dificuldades em lidar com frustrações.

Comentário: Acrescento que este perfil muito se aproxima ao tipo produtivo-criativo porque as pessoas deste tipo estão sempre querendo mudar o mundo que vivem e entram em choque com o sistema vigente. A escola pode ser uma tortura com suas regras sem sentido que todos seguem sem se questionar. Este perfil é chamado divergente porque suas características em muito se diferenciam daquilo que é o comum aceito pela maioria. O resultado disso é, na maioria das vezes, o confronto, o conflito. Importante que saibamos que estas pessoas não são divergentes em si mesmas, mas em relação ao meio social que elas vivem. Em minha experiência com o trabalho na área, eu diria que todos os tipos de pessoas com AH/SD entram em choque com a sociedade vigente, mas o tipo que mais faz isso é o produtivo-criativo. A sua sensibilidade para com a realidade é muito elevada e isto pode levar este tipo a adoecer facilmente quando não são ouvidos e atendidos em suas necessidades. Na nossa sociedade, geralmente, eles não são.

As desistentes

São as crianças e adolescentes que desenvolvem autoestima muito baixa, falta de motivação, baixo rendimento, histórico de abandono escolar, falta de interesse pelo currículo escolar e não raro se comportam de modo depressivo ou agressivo.

Comentário: São aquelas crianças e adolescentes que já tentaram se sair bem na escola, mas não conseguiram por diversos motivos. Facilmente um tipo produtivo-criativo se torna um desistente.

As de potencial oculto

Aqui, são já adolescentes que não se destacaram na infância, mas começam a mostrar talentos na adolescência.

As de múltipla condição

Aqui, são as crianças e adolescentes que têm alguma outra condição além das AH/SD. Geralmente alguma condição chamada de transtorno. Alguns exemplos são o Transtorno de Espectro Autista e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (para mais informações, vide aba Múltipla Condição). Apresentam comportamentos discrepantes do seu potencial e têm sintomas de estresse com queixas de se sentirem desencorajadas, frustradas, rejeitadas e isoladas na escola.

***

 

Os estudos de Witmore (1988):

 

Witmore se dedicou a estudar crianças e adolescentes com AH/SD de baixo rendimento (underachievers) de seus potenciais de aprendizagem e as dividiu em cinco grupos: 

1) Crianças com problemas de conduta. 

 

2) Crianças pouco motivadas. 

 

3) Crianças com algum tipo de atraso de desenvolvimento. 

 

4) Crianças com algum nível de deficiência física e 

 

5) Crianças culturalmente diferentes.

Comentário: defendo que é muito importante saber qual tipo e grupo cada pessoa com AH/SD pertence ou já pertenceu na infância (no caso de adultas/os). Isto porque ajuda, no caso das crianças e adolescentes, a fazer um atendimento educacional especializado e, no caso de adultas(os), para que busquem desenvolver seus talentos através do reconhecimento de seu potencial. Se o potencial não foi desenvolvido na infância, ele está lá esperando para se realizar! Se já vem sendo realizado, então só tem que continuar! E só vamos para frente quando sabemos quem somos e quem desejamos nos tornar.

Por fim, eu, Patricia (vide aba Quem sou) tenho AH/SD do tipo acadêmico/intelectual (também com habilidades na área das artes e liderança) e fui na infância do grupo 1 e continua a ser deste grupo, ou seja, bem-sucedida e autodidata. Este meu perfil do grupo 1 teve influência do meio familiar no qual meus pais sempre deram oportunidades para o desenvolvimento do meu potencial, o que contribuiu para eu me tornar uma pessoa altamente talentosa na ciência. Na descrição de Steven Pfeiffer, estou em dois grupos: o de alto QI e o de alto desempenho. Na minha trajetória, alguns profissionais da educação estiveram ao meu lado no incentivo aos meus talentos. Não foram todos os professores que tive que me enxergaram, mas alguns sim e estes fizeram muita diferença na minha vida. Outros talentos em outras áreas eu desenvolvi depois de adulta, como o talento que tenho, hoje, para as relações interpessoais.

Se você gostou das informações desta página, eis alguns textos que vão ampliar seu conhecimento sobre este tema:

FREITAS, Soraia N.; PÉREZ, Suzana Graciela B. P. Altas habilidades/superdotação: atendimento especializado. Marília: ABPEE, 2012.

LANDAU, Érica. A Coragem de Ser Superdotado. São Paulo: Arte & Ciência, 2002.

SÁNCHEZ, María Dolores P.; COSTA, Juan L. Los Superdotados: esos alumnos excepcionales. Pavia: Ediciones Aljibe, 2000.

 

Referências

Fonte das imagens: www.google.com

 

OUROFINO, Vanessa T.A.T.; FLEITH, Denise. A Condição Underachievement em Superdotação: definição e características. Psicologia, Teoria e Prática, v.13, n.3, 2011, p.206-222. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ptp/v13n3/v13n3a16.pdf

WITMORE, J. Nuevos retos a los métodos de identificación habituales. In Freeman, J. (Org.). Los niños superdotados. Aspectos psicológicos y pedagógicos. Madrid: Santillana, 1988.

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